IMPRENSA

O PAPEL DA INFORMAÇÃO

O tema da exploração sexual de crianças e adolescentes é uma das mais graves formas de violações de direitos da população infanto-juvenil, que, devido à complexidade dos fatores envolvidos, vem desafiando não apenas os gestores públicos, mas também o trabalho cotidiano das redações brasileiras. Nosso projeto acredita que o investimento na qualificação dos jornalistas brasileiros representa um passo decisivo para assegurar e fortalecer, no âmbito do debate público, a devida prioridade em relação aos direitos das novas gerações, prevista na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e em diversos acordos internacionais firmados pelo País. 


Não há dúvida de que as redações brasileiras vêm integrando à pauta cotidiana as questões relacionadas ao tema.  E apesar de ainda ser frequente a presença de abordagens de cunho sensacionalista, há também sinais concretos de que tal tendência vem se alterando nos últimos anos.  

Não se deve perder de vista, contudo, que lidar com a problemática em foco é tarefa complexa, uma vez que essa grave forma de violência é alimentada por uma ampla combinação de fatores, entre os quais, a desigualdade socioeconômica, a impunidade e a omissão do Estado na efetiva implementação de políticas públicas. 



Muitas vezes, é somente por meio da imprensa que a população toma conhecimento de serviços de relevância pública ou de direitos que precisam ser acessados e/ou demandados, sobretudo quando envolvem crianças e adolescentes. Por isso, ir além do meramente factual é uma importante contribuição que o campo jornalístico pode oferecer para esclarecer a sociedade sobre os diversos fatores que gravitam em torno desta violação. Potencializar os esforços da imprensa em torno de um tema comum demanda um complexo trabalho de mobilização que este espaço busca alcançar para o qual a imprensa pode e deve oferecer valiosa contribuição. Como é de conhecimento geral, as questões abordadas no noticiário constituem, quase sempre, foco prioritário do interesse dos gestores públicos, dos atores sociais e de políticos de maneira em geral, influenciando sobremaneira a definição de suas linhas de atuação. 


Por outro lado, os assuntos esquecidos pela imprensa dificilmente recebem atenção da sociedade e dos governos. A falta de interesse pelo tema, de um modo geral, faz o crime permanecer, muitas vezes, sob o manto da invisibilidade social e, consequentemente, da impunidade. Entendemos que é dever da imprensa, também, exercer o controle social sobre as iniciativas públicas como eixo do bom jornalismo. 


EVOLUÇÃO NA COBERTURA DO TEMA

Mesmo diante das dificuldades em lidar com um assunto tão complexo, nos últimos anos os veículos de comunicação tem cedido maior espaço para o debate sobre a temática. O fortalecimento dessa cobertura na agenda das redações brasileiras vem atrelado a um amplo processo de mobilização  em torno do tema, tanto em âmbito nacional quanto internacional. 

Mas apesar de o tema seguir ganhando espaço e qualidade na pauta das redações, as coberturas ainda apresentam equívocos e limites. O noticiário  sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes exige um tratamento diferenciado por parte dos repórteres e editores, que ainda não conseguem perceber a questão com a sensibilidade e delicadeza que ela merece. E um dos aspectos que merecem atenção diz respeito ao viés da cobertura. Ainda é presente a abordagem com foco sensacionalista ou policialesco e uso de imagens inadequadas (com exposição de vítimas e familiares). A falta de cuidado no processo de apuração e veiculação da notícia contribui para o fenômeno que os especialistas chamam de "revitimização", situação na qual a criança ou adolescente é levado a reviver suas experiências de abuso ou de exploração sexual. 

As dificuldades vivenciadas por jornalistas na abordagem do tema estão relacionados aos próprios limites de uma cobertura centrada, muitas vezes, no ato violento em si. Este é, por sinal, um dos principais desafios dos profissionais de imprensa: ir além dos aspectos factuais da notícia, trazendo para leitores enfoques que discutam a problemática em seus diferentes aspectos.

Para isso, é necessário reforçar que o contexto da violência sexual impõe obstáculos que envolvem não só a prevenção, como o atendimento às vítimas e a penalização para os autores. E dentre as necessidades imperiosas para o efetivo enfrentamento deste fenômeno está a transformação dos valores culturais e a aplicação dos princípios da prioridade absoluta e da proteção integral dos direitos da criança e do adolescente. 

Contamos com a parceria da imprensa para mobilizar o poder público e a sociedade a favor dos direitos da criança e do adolescente. Nossas denúncias são encaminhadas às redações como sugestões de pauta, assim como os casos que estão sendo acompanhados judicialmente pelo projeto. Se você é repórter e deseja saber mais sobre o tema, ou se tem conhecimento de algum caso para nos enviar, entre em contato pelo e-mail projetomeproteja@gmail.com